Comércio espera vender mais e contratar menos

Publicado em 30/04/2015

Tempo de Leitura • 5 min

A confiança do comércio reagiu, e a expectativa é de retomada das vendas nos próximos meses, segundo o Índice de Confiança do Comércio (Icom) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que subiu 0,4% em abril na comparação com março. Com o resultado, o Icom atingiu 92,4 pontos no período, e este foi o primeiro mês de alta após cinco quedas consecutivas. No entanto, o indicador ainda mostra uma tendência de redução das contratações pelo comércio, o que está em linha com o aumento do desemprego anunciado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (28/4). Em abril, a evolução favorável do Icom foi determinada pela melhora da percepção em relação ao futuro. O Índice de Expectativas (IE-COM) aumentou 1,9% em abril, para 117,3 pontos, depois de recuar 1,5% no mês passado. Já o Índice da Situação Atual (ISA-COM) continuou piorando e caiu 2% neste mês, para 67,5 pontos, após recuo de 8,9% em março. Apesar de discreta, a melhora na confiança do comércio em abril foi impulsionada pela retomada do otimismo com as vendas nos três próximos meses, que subiu 2,6% em abril ante março. Além disso, a alta espalhou-se pela maioria dos segmentos monitorados pela FGV. Dos 17 setores investigados, 11 registraram alta no Icom deste mês. No varejo restrito, que inclui os setores mais tradicionais do varejo, exceto veículos e materiais de construção, o avanço foi de 3,7% neste mês, em movimento generalizado que atingiu oito das nove atividades. Apesar disso, o indicador mantém uma tendência negativa. "A discreta alta do Icom em abril foi determinada pela melhora das expectativas em relação à evolução dos negócios nos meses seguintes. A diminuição do pessimismo foi insuficiente para alterar a tendência do indicador que mede a intenção de contratações pelo setor. A intenção de contratar continua em queda e sinaliza a diminuição de ofertas de emprego", avaliou, em nota, Aloisio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV. No mês passado, o Icom havia recuado 4,4%, para o menor nível de toda a série, iniciada em março de 2010. Mesmo com a elevação neste mês, o índice permaneceu na zona considerada "desfavorável" para a atividade, ou seja, abaixo dos 100 pontos. A média histórica do índice é de 123,7 pontos. A intenção de empregar mais trabalhadores caiu pelo quinto mês consecutivo, agora com recuo de 2,5%, e atingiu o menor patamar da série histórica (91,4 pontos), iniciada em 2010. Na prática, o fato do indicador estar abaixo de 100 pontos significa que mais empresas pretendem demitir nos próximos meses do que contratar. Como a série deste indicador é recente (iniciada em março de 2010), a FGV adiantou que vai revisar os resultados mês a mês, até que estejam mais consolidados. A coleta de dados para a edição de abril da sondagem foi feita entre os dias 01 e 23 de abril e obteve informações de 1.206 empresas. DESEMPREGO CRESCE 6,2% EM MARÇO O ritmo de contratações tem sido reduzido não só no comércio, mas em outros setores da economia. A taxa de desemprego apurada nas seis principais regiões metropolitanas do país subiu 6,2% em março - a maior para este mês desde 2011, quando foi de 6,5%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O desemprego havia aumentado 5,9% em fevereiro deste ano e 5% em março de 2014. Ao todo, 280 mil pessoas engrossaram a fila em busca de uma ocupação em um ano até março de 2015, diante da extinção de 197 mil vagas e também da maior procura por emprego dos que antes estavam entre inativos. O rendimento médio real do trabalhador, já descontados os efeitos da inflação, foi de R$ 2.134,60 em março. O resultado significa queda de 2,8% em relação a fevereiro e recuo de 3% ante igual mês de 2014. Rafael Bacciotti, analista da Tendências Consultoria, diz que o movimento reflete o enfraquecimento da atividade econômica no Brasil, bem como a perspectiva negativa para 2015. Nas projeções da Tendências, o PIB (Produto Interno Bruto, soma de produtos e serviços produzidos pelo país) vai cair 1,4%. Segundo ele, a renda deve continuar em queda, principalmente por causa da inflação alta. Para o comércio, a notícia não é boa. Principalmente porque as variações na renda influenciam o consumo e, consequentemente, as vendas. José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, afirma que a retração da atividade econômica vai continuar afetando a massa de rendimento. "As perspectivas são de efeito contracionista da queda da renda sobre o consumo e, portanto, sobre a atividade corrente e esperada", diz. "Continuamos a perceber os riscos de que, se o mercado de trabalho continuar a se deteriorar durante todo o ano e o rendimento disponível cair, isso deve impor mais pressão de queda sobre as perspectivas de consumo das famílias", afirma Bruno Rovai, economista para Brasil do banco Barclays. O banco estima que a recessão no Brasil pode ser mais profunda do que a projeção de queda de 1,1% e que o recuo no consumo das famílias também supere 0,1%. *Com informações de Estadão Conteúdo

Sobre o autor

Alberto Spoljarick Neto

Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.