A empresa que está mudando a logística no país

Publicado em 06/05/2015

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Começar uma empresa na sala de casa sem nenhum investimento e, depois de algum tempo, empregar mais de 400 funcionários e faturar R$ 36 milhões por ano pode parecer uma história que só acontece no Vale do Silício. Mas esse conto de fadas do empreendedorismo teve como palco a pequena cidade de Chapecó, no interior de Santa Catarina. Em 2001, o então estudante Márcio Lira estava diante de um impasse. Filho de uma empregada doméstica e de um guarda noturno, ele trabalhava como operador de monitoramento de alarme residencial e ganhava por volta de R$ 400 por mês, mais da metade consumido com a prestação do carro. Quando passou no vestibular, o salário não era suficiente para pagar as mensalidades do curso e manter o veículo. A solução foi montar seu próprio negócio. “Comprei um livro sobre representação comercial que na época custou R$ 95,00 e parcelei em 10 vezes”, diz Lira. Um dos trechos tratava do rastreamento de veículos, à época uma novidade no mercado. Lira se interessou por essa tecnologia e fechou um acordo com a fabricante dos equipamentos. Além de vender os aparelhos, ele operava um software de monitoramento. Foi assim que começou a história da AngelLira. “Consegui uma lista de contatos de transportadoras, ligava um por um e falava sobre o sistema de rastreamento de veículos”, conta Lira. “Muitos acreditavam que esse controle de caminhões era impossível de ser feito.” Depois de muitos telefonemas e de uma grande persistência, ele conquistou seu primeiro cliente: a empresa Cordenonsi, que na época tinha uma frota de quatro caminhões. “Ficava em casa monitorando os veículos das três da manhã até às sete da noite”, diz Lira. “Mas a carga precisa de ser vigiada durante 24 horas e tive que contratar meu primeiro funcionário para fazer o outro turno.” O empresário saiu da sala de estar de seus pais e montou seu primeiro escritório em um espaço de 50 metros quadrados, que também servia de moradia para o empresário. “Foi um período difícil, trabalhava e dormia num quartinho em cima de posto de gasolina. Eu me perguntava constantemente se esse era o melhor caminho a seguir”, afirma Lira. “Pensei em abandonar tudo e procurar um emprego, mas realmente acreditava que o negócio ia dar certo”. Bingo. Em menos de um ano, o empreendedor fechou seu primeiro grande contrato com a empresa de alimentos Aurora, que na época possuía 300 caminhões. O sistema de Lira conseguiu reduzir os roubos de carga em 98%. De lá pra cá, a AngelLira cresceu em média 30% ao ano ao atender principalmente grandes empresas de tecnologia e de alimentos. UM SETOR DEFICIENTE A empresa de Márcio Lira está ajudando a resolver um dos problemas que mais aflige os empresários brasileiros: a logística. O setor é um dos grandes gargalos no desenvolvimento do país, que carece de malha rodoviária, portos e ferrovias. Além de uma infraestrutura ineficiente, há também a falta de empresas capacitadas para fazer um transporte ágil e seguro. “A maioria das transportadoras ainda tem uma operação amadora, muitas delas ainda fazem o controle de frotas de 500 caminhões por meio de planilhas de Excel”, diz Lira. De acordo com Banco Mundial, os gastos com o transporte de cargas equivalem a 20% do PIB do Brasil, nos países desenvolvidos esse número cai pela metade. Os furtos são parte desse problema, de acordo com um levantamento realizado pela GRISTEC, (Associação Brasileira das Empresas de Gerenciamento de Risco e de Tecnologia de Rastreamento e Monitoramento) esse crime cresceu em mais de dez vezes na última década. “Todos os tipos de produtos são roubados nas estradas brasileiras desde feijão até tratores, mas as cargas que mais chamam a atenção das quadrilhas são os eletrônicos, cigarros e remédios”, diz Lira. Além de monitorar cargas, a AngelLira está reduzindo os custos dos transportes com uso de outras ferramentas. Desde os primeiros anos, a empresa investe em inovação e desenvolveu diversos softwares para melhorar eficiência dos transportes. Um deles foi criado quando Lira conversou com um dos representantes da Aurora. Ele contou que muitos dos alimentos congelados eram perdidos durante a locomoção porque o caminhão frigorífico não conseguia manter uma temperatura estável durante o percurso. Lira criou um programa de computador capaz de monitorar e controlar a temperatura dentro dos baús. “A Aurora costumava perder 150 toneladas de produtos por mês e, após instalarmos o sistema, o número caiu para uma tonelada a cada três meses”, afirma Lira. “Fomos pioneiros nessa tecnologia e muitos concorrentes começaram a nos copiar”. A empresa continuou inovando, sempre tendo em vista preencher as necessidades dos clientes. Foi dessa forma que surgiram softwares mais complexos que fazem a gestão logística completa: avalia tempo de embarque e desembarque, faz controle de entregas em tempo real e envia alertas quando uma rota é alterada. Diário do Comércio

Sobre o autor

Alberto Spoljarick Neto

Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.