Paulo Skaf e Guilherme Afif propõem novos caminhos para o país
Publicado em 09/11/2015
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Algumas das principais lideranças empresariais do País estiveram no Guarujá semana passada, para participar do 16º Congresso da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp).
No primeiro debate da tarde, o presidente a Facesp, Alencar Burti, recebeu o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e do Conselho Deliberativo do Sebrae-SP, Paulo Skaf.
Ao apresentar o convidado, Burti defendeu a união entre os brasileiros. “A unidade das nossas instituições é fundamental”, disse. O presidente da Fiesp, por sua vez, concordou e acrescentou que essa união é essencial e também deve ser, primordialmente, contra o aumento da carga tributária.
“O problema do Brasil está nos governos, que são pesados, que gastam mal e cobram muitos impostos. Vamos arrecadar R$ 2 trilhões em impostos neste ano, e o governo federal sempre diz que esse dinheiro nunca dá”, afirmou Skaf.
Para ele, o poder público precisa seguir a lógica das empresas, cortando despesas. “Contudo, ele faz o contrário. Ele aumenta impostos. Não podemos aceitar isso”.
Enérgico em suas críticas contra a política tributária, Skaf disse que a sociedade precisa mudar urgentemente. “A crise política se soma à falta de vergonha na cara que assistimos todos os dias, com um escândalo novo por dia”.
Ao fazer uma análise do momento político, o presidente da Fiesp ressaltou o papel da população. “Governo nenhum faz o futuro de ninguém. O futuro de cada um é feito por seu trabalho e suor”, comentou.
Por fim, Skaf falou que é preciso estimular a participação de pessoas boas na política, pois somente quem faz o bem poderá mudar os rumos do País. “O remédio para um veneno é diluí-lo em água boa”, disse, em referência à imagem negativa que a classe política tem junto à população.
Entender a economia
Após a apresentação de Skaf, que se despediu sob fortes aplausos, a plenária do evento recebeu o economista sênior do Bradesco Felipe França, que conduziu o painel “A crise atual e o seu reflexo na economia brasileira”. Formado pela USP com mestrado pelo Insper, ele avaliou que entender o que está acontecendo com a economia brasileira é um desafio.
De acordo com França, parte da desaceleração brasileira está ligada ao desempenho do cenário internacional. Um dos aspectos comentados por ele foi o forte crescimento dos EUA, que tem resultado num dólar mais forte. “O real vai continuar se depreciando e o mundo vai continuar crescendo menos, porque a China está crescendo menos”, opinou.
Para voltar aos trilhos e colocar a economia em ordem, o economista do Bradesco explicou que é preciso reverter a taxa real de juros de 2%, elevar o superávit primário, reduzir os estímulos para-fiscais e reverter a deterioração do déficit em conta corrente. “Esse último”, contou França, “é um dos mais desafiadores. Para fazer isso, você precisa de apoio no Congresso, o que não ocorre atualmente”.
Por ter uma dívida pública muito alta, o Brasil não consegue crédito com tanta facilidade quanto antigamente, tornando ainda mais difícil a tarefa de reduzir o rombo nas contas.
“O fato é que neste ano o PIB vai cair 3% e vai cair mais um pouco no ano que vem. Só a partir do segundo semestre é que teremos um respiro. A chave para a retomada é a confiança. É difícil medir a confiança, mas vimos que atualmente ela está abaixo do nível histórico. E não é de hoje que ela vem caindo, é desde 2012”, analisou França.
Para ele, o elevado déficit e a alta inflação são os fatores que mais contribuem para a queda da confiança. “Devemos atingir o fim do poço em algum momento entre o primeiro e o segundo trimestre do ano que vem, percebendo alguma recuperação somente a partir do segundo semestre”, concluiu.
Brasil mais simples
A última palestra do evento coube ao presidente do Sebrae Nacional e ex-ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos.
No início de sua apresentação, ele afirmou que sua indicação ao Sebrae se deu em função do desejo da presidente Dilma Rousseff, que, obrigada a extinguir a secretaria que ele comandava, lhe confiou o trabalho de dar continuidade à política de incentivo ao empreendedorismo.
Em seguida, Afif defendeu o Simples, sistema tributário que ajudou a criar. “O nosso Simples – e estamos trabalhando em seu aperfeiçoamento – é a coluna mestre do que se deve fazer no Brasil”, comentou.
“Eu não tenho dúvida nenhuma de que o Brasil é um país complicado”, disse. De acordo com Afif, o cidadão brasileiro sofre demais com a burocracia, em níveis superiores a muitos outros países. Ao apresentar os crescimentos do Simples e do MEI, o palestrante argumentou que o brasileiro, há muito tempo, busca a simplicidade em suas vidas, e que, portanto, é preciso reunir esforços nesse sentido.
De janeiro até outubro, segundo dados apresentados por Afif, a arrecadação das empresas do Simples cresceu 14,03%. Na média geral, contudo, houve queda de 1,9%. “A pequena empresa é mais resistente à crise”, defendeu o ex-ministro.
Afif citou o medo que as pequenas empresas têm de crescer, temendo a maior tributação que acompanha esse crescimento. Segundo ele, algumas delas, para fugir dessa situação, seguem o caminho da sonegação.
“Quem sai do simples e entra no complicado tem morte súbita, porque a pancada é muito forte”, frisou, ao justificar uma política tributária mais justa, que estimule o empreendedorismo, em vez de combatê-lo.
“Para fazer acontecer é preciso ter vontade política, integração entre os poderes e aprimoramento de atitudes e valores”, afirmou.
Durante sua apresentação, com números e informações relacionadas a programas de simplificação, o presidente do Sebrae criticou em várias oportunidades o eSocial, criado pela Receita para, teoricamente, facilitar a vida do contribuinte. Contudo, no entendimento de Afif, não é o que acontece: “Estamos digitalizado burocracia”.
Texto: Renato Santana de Jesus
Sobre o autor
Alberto Spoljarick Neto
Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.