IPCA sobe 1,32%, a taxa mais alta para março em 20 anos
Publicado em 10/04/2015
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O efeito da correção dos preços administrados, como os de energia elétrica, pesou no resultado da inflação oficial de março, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
No mês passado, o índice subiu 1,32%, mais do que em fevereiro, quando a variação foi de 1,22%. Apesar disso, ficou levemente abaixo da projeção do relatório de mercado Focus, do Banco Central, que era de uma alta de 1,40%.
Para se ter uma ideia, em março de 2014, o IPCA foi de 0,92%. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o resultado de março deste ano foi o maior mensal desde fevereiro de 2003, quando atingiu 1,57%, além de ser a taxa mais elevada considerando apenas os meses de março desde 1995, quando o índice foi de 1,55%.
No acumulado do ano, o IPCA ficou em 3,83% e nos últimos 12 meses, em 8,13%, o mais elevado desde dezembro de 2003, quando fechou em 9,30%.
O índice acumulado em 12 meses se aproximou da projeção dos analistas do relatório Focus, que é de um IPCA de 8,20% ao fim de 2015.
Segundo Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, provavelmente os piores resultados para o IPCA ficaram concentrados no primeiro trimestre.
Ele avalia que metade da alta da inflação do ano inteiro ocorreu nestes primeiros três meses. "Como estamos com um número próximo a 4% só neste período esperamos que o índice encerre 2015 em 8,3%", diz.
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Leal afirma que, daqui para frente, há chances de que o índice suba em velocidade menor que 1% ao mês, até mesmo por causa da sazonalidade. Tradicionalmente, o IPCA acelera no começo do ano por causa dos reajustes de administrados e também por fatores climáticos que elevam os preços dos alimentos. Um novo ciclo de pressão costuma ocorrer no último trimestre do ano.
Para abril, o economista espera uma aceleração menor, de 0,60% para o IPCA. Apesar da correção de preços administrados no começo deste ano, ele não descarta novos aumentos, agora não em função do ajuste, e sim por causa do cronograma regular da distribuidoras de energia. O mesmo pode ocorrer com os combustíveis por causa da alta do dólar. No entanto, esses aumentos tendem a ser mais esparsos.
Outro fator de pressão é a seca, que acabou tendo impacto importante sobre os preços da alimentação no primeiro trimestre e cujo comportamento será uma incógnita daqui para frente na visão de Leal.
Para André Muller, economista da Quest Investimentos, uma das cinco instituições que mais acertam nas projeções de inflação no curto prazo do Focus, o regime baixo de chuvas nos próximos meses também deve impactar os preços de alimentos in natura.
Ele espera que o IPCA encerre o mês de abril com alta também menor, de 0,65%, por causa da sazonalidade. Para o fim do ano, o prognóstico para o IPCA é de 8,20%.
Para o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, o IPCA veio abaixo da expectativa de 1,37% para março.
"Para os próximos meses, projetamos desaceleração significativa do IPCA, por conta da descompressão dos preços administrados e dos alimentos in natura. Ainda assim, a desaceleração dos preços de serviços continuará em ritmo bastante gradual ao longo de 2015. Especificamente para abril, nossas estimativas prévias apontam para alta ao redor de 0,60%. Dessa forma, projetamos elevação de 8% do IPCA em 2015", informou em relatório.
Quem também observa que os efeitos da atividade mais fraca começam a dar os primeiros sinais sobre a inflação de serviços é o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. Segundo ele, o grupo serviços vem registrando taxas elevadas há algum tempo, mas agora a perda de dinamismo da economia dá sinais de reflexos sobre o poder de compra das famílias. "A resposta tende a ser uma diminuição da procura por esses serviços", afirma.
O economista lembrou que o grupo serviços chegou a bater 9,19% em junho de 2014 e passou a se estabilizar na faixa de 8%. A tendência é de que a taxa fique em 7,00% este ano, diante do enfraquecimento econômico.
"Tem de tomar cuidado ao estimar que a inflação irá avançar muito mais do que isso. Embora ainda tenha uma distribuição forte de benefícios, o enfraquecimento do mercado de trabalho deve ajudar no arrefecimento de serviços. A economia não está conseguindo mais suportar isso [taxas elevadas]", diz o economista da RC.
Diário do Comércio
Sobre o autor
Alberto Spoljarick Neto
Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.