Inadimplência deve encerrar o ano com alta de 1,8%
Publicado em 12/10/2015
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Os juros altos, a inflação corroendo a renda e o avanço do desemprego estão exercendo pressão sobre o orçamento das famílias. É o que mostram indicadores de inadimplência com diferentes metodologias.
Segundo a Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), apenas no setor varejista, a inadimplência avançou 2,9% em todo o Brasil no mês passado na comparação mensal, já desconsiderados os efeitos sazonais.
A taxa de inadimplência geral registrou avanço de 1,1% tanto no acumulado no ano como em 12 meses até setembro. A estimativa da instituição é que o indicador encerre 2015 registrando uma alta de 1,8%,.
Apesar disso, no curto prazo, o consumidor mostra cautela, já que o atraso de pagamentos caiu 4,1% em setembro na comparação com agosto. O crédito mais restrito por parte dos bancos também ameniza a escalada desse indicador.
O indicador da Boa Vista SCPC é elaborado a partir da quantidade de novos registros de dívidas vencidas e não pagas informados pelas empresas credoras, como carnês e faturas de cartões de crédito.
Por causa da Lei Estadual de São Paulo n° 15.659/2015, a partir de setembro, a Boa Vista passou a usar como referência o número de cartas de notificação enviadas aos consumidores em vez dos números de débitos ativos na base do SCPC.
ATRASOS NAS CONTAS DE SERVIÇOS BÁSICOS
Outro indicador da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil mostra que o número de consumidores com contas atrasadas subiu 5,45% em setembro sobre igual mês de 2014. Na comparação com agosto deste ano, houve recuo de 0,59%.
Na metologia deste indicador, também são contabilizados os registros de atrasos nas contas de consumo de serviços básicos, diferentemente do indicador da Boa Vista SCPC.
Segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, é comum haver redução na inadimplência em setembro, na comparação com agosto. Isso porque em setembro há mais dinheiro circulando na economia com início de pagamento de abono de Natal a beneficiários da Previdência.
Também nesse mês, há feirões de renegociação de dívidas. “As próprias empresas procuram renegociar”, explicou a economista. Mas ela ressalta que em outubro e novembro a inadimplência volta a subir, com nova redução em dezembro, com a influência do 13º salário.
Os atrasos nos pagamentos de contas básicas, como água e luz, foram os que mais cresceram: 12,55%, na comparação entre setembro deste ano e o mesmo mês de 2014. As dívidas bancárias, incluídas pendências com cartão de crédito, empréstimos, financiamentos e seguros, subiram 10,32%.
As dívidas do setor de telecomunicações, atrasos no pagamento de telefone fixo, celular e TV por assinatura, cresceram 4,17%, enquanto as pendências no comércio tiveram alta de 0,85%.
Segundo a CNDL, quase metade das dívidas em atraso são de bancos (48,17%). A segunda maior participação no total das dívidas é com o comércio (20,3%).
A economista destacou que a inadimplência está espalhada por todos os segmentos da economia, o que gera preocupação. Para ela, o cenário futuro também está ruim, com menos contratações no comércio no final do ano, aumento de desemprego, rendimentos menores e queda menor da inadimplência esperada para o final do ano.
Segundo ela, não deve haver redução da inadimplência de 1% a 1,5% no final do ano, como geralmente acontece, devido à recessão econômica, com inflação alta.
Segundo Marcela,a inflação forte nos segmentos de alimentação, habitação e transporte dificultam a queda da inadimplência. “Não são itens específicos que a gente consegue trocar. É menos dinheiro sobrando para pagar dívidas e sair da inadimplência”, acrescentou.
Mesmo assim, a economista não acredita em descontrole da inadimplência porque os bancos estão emprestando menos. “O que limita a inadimplência é a base de crédito menor”, disse.
Para Marcela, a economia pode mostrar alguma melhora a partir do segundo semestre de 2016. Ressalta, porém, que é preciso que o governo resolva a crise política para a situação melhorar. “A luz no fim do túnel não está no começo do ano que vem. Está do meio para o final”, disse.
EMPRESAS ENDIVIDADAS
A inadimplência não atinge apenas o consumidor. Segundo a Serasa Experian, os atrasos nos pagamentos das empresas totalizaram 4 milhões de casos, que alcançaram R$ 91 bilhões.
Quase a metade (46%) das empresas com dívidas em atraso é da área do comércio (setores de bebidas, vestuário, veículos e peças, eletrônicos, entre outros).
Também há expressiva parcela (44%) concentrada no setor de serviços (bares, restaurantes, salões de beleza e turismo, entre outros) e 9% na área industrial.
DIário do Comércio
Sobre o autor
Alberto Spoljarick Neto
Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.