Como lidar com os preços em época de inflação alta
Publicado em 13/04/2015
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O dragão da inflação está solto neste ano, com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 8,13% no acumulado de 12 meses até março. O que puxou o índice para cima foi o aumento da tarifa de energia elétrica, que atinge a todos. No entanto, a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços –Mercado), está mais comportada, ou 3,16% no mesmo período. Por isso, o pequeno empresário terá de descobrir, de acordo com o seu ramo de atuação, qual é a sua própria inflação, que muitas vezes pode não ser a mais alta nem a mais baixa.
O empreendedor não poderá escapar da missão de revisar os preços de seus produtos e serviços. Isso porque não basta só subir sem critério, porque perderá cliente e, pior, ficará estocado. E se baixar demais, para tirar o consumidor do concorrente, pode ficar sem caixa e sucumbir.
Especialistas dizem que, dependendo de como o empresário faz a gestão dos preços, a tarefa pode ser mais ou menos árdua. "Quem forma preços com base apenas no feeling, naquela ideia do paguei R$ 10 e vou revender por R$ 20, sem critérios específicos, terá de colocar tudo na ponta do lápis. Isso dá mais trabalho, mas só assim ele saberá se o produto ou serviço que vende, na quantidade e preço, são rentáveis ao negócio", explica João Carlos Natal, consultor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo).
Quem ignora isso, explica Natal, pode entrar em uma guerra de preços com a concorrência e prejudicar as finanças do próprio negócio. "Quem não conhece a estrutura do preço de venda e entra na guerra de preços pode quebrar. Os sinais que mostram que a saúde financeira não está boa são a necessidade constante de antecipar recebíveis e não conseguir repor a mercadoria que vendeu", diz o consultor.
Ele afirma que este é o momento certo de reorganizar a estrutura dos preços, já que nos momentos de crise o que diferencia um pequeno empresário de outro é a gestão financeira.
"A crise serve para limpar o mercado e, depois, só ficam aqueles que fizeram uma boa gestão. O empresário não pode olhar para o seu negócio como se observasse o próprio holerite. O bom da crise é que, se várias empresas quebram, outras vão vender mais", afirma.
Maurício Galhardo, sócio-diretor da Praxis Business, consultoria que assessora a gestão financeira de franquias e varejo, diz que algumas teorias devem ser lembradas, como a de gestão de categorias, que consiste em selecionar bem o tipo de produto que terá aumento de preço.
Ele também recomenda buscar a diferenciação, seja no produto, no atendimento ao cliente como forma de manter não só o preço, mas o consumidor sempre por perto. "Este ano é o momento de fazer muito mais para ganhar a mesma coisa", diz.
Fernando Teixeira, mentor da organização não-governamental Endeavor e presidente da Emporium Cigars – empresa de médio porte de distribuição de charutos - diz que recentemente também viveu o dilema de aumentar o preço.
Isso porque o produto que ele distribui, importado de Cuba, subiu cerca de 30% por causa da valorização do dólar. O empresário decidiu repassar menos da metade dessa alta com a estratégia de aumentar o volume de suas vendas.
“Se eu repassasse toda a alta, abriria espaço para a concorrência desleal dos distribuidores informais, que já vendem o produto abaixo do preço de mercado”, explica.
Com experiência de 30 anos no mercado, 25 deles como executivo de diversos departamentos da Souza Cruz, Teixeira diz que o segredo da gestão do preço é saber qual é a inflação do próprio negócio e olhar bem para o volume de vendas.
Para ele, muitas vezes a solução não é subir o preço, mas ganhar em volume. Quando a empresa vende mais consegue manter a margem de lucro, mesmo com o aumento de custos. “Essa escolha implica ganhar participação de mercado”, diz.
Os especialistas detalham seus conselhos a seguir.
Natal, do Sebrae-SP, aconselha o empreendedor a começar pela formação do preço. Isso deve ser feito com base:
* No preço do insumo ou do produto para revenda.
* Nas despesas fixas (salários, pró-labore, água, luz, telefone, aluguel do imóvel e da máquina de cartão, mensalidade da conta-corrente da empresa e contador).
* Nas despesas variáveis (impostos, taxa das transações recebidas em cartão, comissão de vendedores, embalagens e publicidade).
Ao calcular tudo isso, olhando para o que aconteceu no último mês, determine o preço justo. Nesta conta, acabará entrando o que mudou com a alta da inflação. Depois, acrescente a margem de lucro, que é o retorno para a empresa. Compare com os preços de mercado e avalie, com base na quantidade que você pode vender, se determinado produto ou serviço vai gerar lucro para o seu negócio.
Nessa conta, o empresário também vai descobrir qual é a inflação do seu negócio.
Natal diz que, na indústria e no comércio, a margem de lucro deve ser de 5% a 10%. Em serviços, de 15% a 20%.
Diário do Comércio
Sobre o autor
Alberto Spoljarick Neto
Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.